XXIX Colóquio Heidegger  2024

Auditório do Hospital do Rim, UNIFESP, São Paulo

R. Borges Lagoa, 960 - Vila Clementino


Instituto Dasein

Rua Paracuê, 157 - Sumaré, São Paulo

Heidegger como Educador

Em “Schopenhauer como Educador”, Nietzsche afirmava que uma filosofia que acreditasse remover ou solucionar o problema da existência através de um acontecimento político seria uma pseudofilosofia, uma filosofia de brinquedo. Schopenhauer promoveu um impacto estrutural na filosofia do século XIX, ao sustentar que uma filosofia genuína, não institucionalizada, deveria abordar o problema universal do sentido e valor da vida: a vida tem valor de ser vivida?

Ambos viram com incomparável suspeita e desdém as práticas e agendas filosóficas geradas por funcionários do Estado - professores de filosofia - nas instituições universitárias. Neste sentido, eles foram educadores de gerações que lecionaram a exigência de um filosofar genuíno, examinando temas e problemas não afastados da vida e produzidos pela máquina burocrática e institucionalizada da profissão filosofia. A filosofia posterior a Hegel conheceu diferentes manifestações da crítica radical, inclusive como crítica da filosofia universitária e institucionalizada. Entretanto, se a exigência de tornar a filosofia uma interpretação da experiência fáctica da vida, lecionada por Heidegger após a I Guerra Mundial, não era apenas uma crítica à burocratização e desfalecimento do filosofar, com o projeto de uma destruição da história da ontologia foi proposta uma radicalização sem precedentes na história da autocrítica da filosofia, do seu repertório de conceitos, problemas e métodos. Com a passagem para o pensamento da história do ser como acontecimento apropriativo, chega-se a um patamar ainda mais excepcional de radicalização, pois declara-se que a culminação da metafísica na era da técnica moderna simplesmente engolfa práticas, instituições, saberes, ciências, filosofia e a própria crítica numa forma totalizante de pensar e falar que esquece o seu esquecimento do essencial. Trata-se, assim ensinava a lição, de ultrapassar a linguagem da metafísica e sair da Filosofia.

O tema do 29º Colóquio Heidegger é inspirado nestes motivos, oferecendo a oportunidade para a apresentação de trabalhos que abordem a obra de Heidegger sob o aspecto da identificação e avaliação das lições que nela estão professadas. Nesta obra, com mais de 100 volumes, há interpretações, análises fenomenológicas, construções, desconstruções, comunicações indiretas, indicações formais e invenções filológicas, que são proferidas em escritos de estilos tão diversificados, variando de ensaios, livros sistemáticos e experimentais, diálogos, conferências, notas de cursos e seminários, aforismos e até mesmo textos codificados. Em tais escritos está presente a figura do professor socrático, que busca rememorar o já sempre sabido e forçosamente esquecido? Estaria também a figura do professor cristão, desenhada por Kierkegaard, que não ensina o já compreendido, mas leciona o que vem do excedente à compreensão e alcança os limites da linguagem? Ou na obra de Heidegger haveria o desenho de uma nova figura do educador, que erra para além do bem e do mal?

O tema do 29º Colóquio Heidegger tem, portanto, um aspecto descritivo e avaliativo. Quais são os resultados da obra de Heidegger que precisam ser aprendidos? Quais foram ultrapassados? Há lições perigosas? Quem são os aprendizes destes ensinamentos? Deste modo, o tema tem importância destacada para os estudos históricos e filológicos sobre a obra de Martin Heidegger. Além disso, os problemas organizados em torno desta discussão possibilitam abordagens não apenas historiográficas, mas tratamentos que pertencem a áreas básicas de problemas filosóficos, como a teoria da intencionalidade e da linguagem, a filosofia da ação e da mente, a filosofia da história e a filosofia prática em geral.

Por fim, o tema é altamente relevante para a abordagem naturalizada em Fenomenologia, pois admite um exame em diálogo com as Ciências da Memória Cultural, com as Ciências Cognitivas e com a Filosofia da Memória uma vez que também se propõe a tecer reflexões contemporâneas.

Organização

Alexandre Ferreira

Eder Soares Santos

Róbson Ramos dos Reis 

Tito Marques Palmeiro